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Text Neck – Pescoço de texto
- 9 de novembro de 2018
- Adicionado por: Eros de Castro
- Categoria: Evidência Científica Fisioterapia RPG SSRP
Você já ouviu sobre a TEXT- NECK SYNDROME”ou sobre a “Síndrome do pescoço de texto”?
Esse termo foi criado recentemente com o advento do constante uso do telefone celular e dos dispositivos eletrônicos portáteis. Para se ter noção sobre o assunto, em 2012 na Suécia , o acesso aos smartphones foi de 99% entre adultos jovens, sendo que 79% usavam mensagem de texto via SMS diariamente. No Brasil, em 4 anos, o número de pessoas que usam smartphone subiu 3,5 vezes, passando de 14% em 2012 para 62% em 2016.
Diante do crescente número de usuários de dispositivos móveis, a mídia, alguns profissionais de saúde desinformados e mesmo alguns estudos de baixa reprodutibilidade fizeram uma correlação inadequada entre cervicalgias e o uso do telefone celular.
- Como o uso da tecnologia móvel pode estar influenciando a dor crônica?
- Quem nunca associou o uso do celular à dor no pescoço?
A literatura continha estudos com baixa qualidade metodológica que associados ao senso comum, criou-se uma crença que existe uma relação entre a anteriorização da cabeça e a dor no pescoço.
A mídia e vários profissionais de saúde desinformados contribuem para a manutenção dessa crença, atribuindo responsabilidade à essa posição mantida em flexão pela coluna cervical como causadora de dor.
Mas…
Um estudo transversal realizado por Fisioterapeutas do Rio de Janeiro e de Minas Gerais dá uma força para desmistificar essa lenda: o temido “text-neck”.
Os pesquisadores realizaram um estudo para verificar se a postura em flexão do pescoço durante o uso do celular , conhecida mundialmente como “Text Neck”, está associada a dor cervical.
Existem realmente alguns estudos biomecânicos mostrando que há uma tendência a flexão anterior da cabeça e de que isso exerceria um estresse mecânico importante nas estruturas da coluna cervical.
Por isso antes de realizar um estudo longitudinal, decidiram realizar um estudo transversal para ver se aqueles que ficam com a maior flexão cervical ou projeção anterior da cabeça, segundo a opinião de 3 fisioterapeutas experientes e também segundo a auto percepção do próprio participante, se queixavam de mais dor cervical.
Testaram essa associação não apenas com o desfecho presença de dor cervical, mas também com a frequência de dor cervical, considerando uma série de potenciais confundidores.
O resultado foi que NÃO encontraram nenhuma associação entre o “TEXT NECK” E DOR CERVICAL.
No mínimo podemos dizer que houve precipitação em todas essas reportagens culpando o uso do celular pelo aumento das queixas de dor cervical, já que essa associação não havia sido testada.
Esse foi mais um exemplo de que o que parece biomecanicamente plausível muitas vezes não se concretiza em estudos epidemiológicos.
Atribuir o aumento nas queixas de dor cervical ao “Text Neck” possivelmente reforçará a falsa ideia de que a coluna cervical é frágil e precisa ser protegida, ainda mais com a difusão dessa informação, não embasada cientificamente, na mídia.